
No livro “O Discurso da Estupidez”, de Mauro Mendes Dias, encontrei um assunto muito atual sobre comunicação. A obra tem uma abordagem psicanalítica com o objetivo de avaliar e propor tratamentos ao comportamento da vociferação, que significa falar aos brados ou colericamente; berrar, proferir (algo) aos gritos ou com voz forte e clamorosa.
Mauro Mendes acrescenta que quem vocifera se fundamenta na recusa da possibilidade do diálogo, o que o impede de escutar aquele a quem se dirige as palavras. Esse comportamento se manifesta com o aumento do volume da voz, excesso de frases afirmativas, às vezes, palavras de ódio, afirmações que descaracterizam o raciocínio do interlocutor (“você está completamente errado”; “não mais”; “você não consegue entender”; entre outras). Velocidade de fala aumentada, com poucas pausas para não ser interrompido e repetição dos mesmos argumentos de forma modificada. Apresenta um discurso repleto de objeções, geralmente enumeradas, inicia sua fala com expressões fortes que combatem veementemente o argumento contrário, não mostra nenhuma dúvida sobre o que fala, faz uso de palavras fortes e se mostra apaixonado por suas ideias.
São capazes de ensinar a você mesmo sobre sua profissão, sem serem habilitados para isso. É sim um discurso muito presente na sociedade atual. O vociferante está tão convicto em suas premissas ou tão disposto a contradizer qualquer alegação alheia que se mostra incapaz de escutar uma proposta que não seja a própria.
É usar abusivamente do seu direito de fala sobre os outros, empobrecendo a língua de maneira repetitiva e sem sabor, repleta de slogans. De maneira irônica, qualquer semelhança com as redes sociais de hoje é mera coincidência. Mas precisamos lembrar que o comportamento das redes sociais é um retrato do que presenciamos diariamente nos nossos ambientes familiares e profissionais sobre qualquer assunto. Pessoas vociferantes defendem seus pontos de vista sobre escolher uma estratégia ou outra para um projeto, definir a data do evento da empresa, negociar com um cliente ou definir se comprarão uma TV ou máquina de lavar em casa. Pode ser qualquer assunto. Podemos encontrar os vociferantes políticos, corporativos, entre amigos...
são tantos!
Do outro lado, o ouvinte se sente assediado, desrespeitado e incapaz de lidar com um comportamento que na teoria não deveria ser aceito socialmente. Como tratar? Uma área da psicanálise propõe tratamento terapêutico assumindo que a vociferação é uma psicose.
No ambiente corporativo, assumindo que a maior parte dos assuntos são profissionais e se constroem dentro de uma área do cérebro chamada de córtex pré frontal. Essa área é mais racional e capaz de criar pensamentos e comportamentos adaptativos adequados do falante, propomos o desenvolvimento da autoconsciência, convidando o falante a se observar de maneira crítica e reduzir os comportamentos abusivos de fala, elaborando
os termos melhores a serem utilizados, aumentando as pausas, elaborando perguntas que o levem a se interessar conscientemente pelas ideias e crenças do outro. São autoavaliações tão necessárias na sociedade atual.
Já tive a oportunidade de acompanhar de perto diversos profissionais com esse comportamento. Geralmente, eles chegam para o trabalho com indicação do RH e são acompanhados da seguinte avaliação: não é possível um profissional na posição dele apresentar um comportamento tão abusivo. O trabalho tende a ser um pouco mais longo, mas com resultado satisfatório quando elaborado dentro do discurso profissional. A abordagem multidisciplinar com a psicologia também pode ser indicada, quando o padrão não é apenas uma questão de comportamento e falta de educação, mas está acompanhado de pensamentos e emoções profundas.
Um sonoro abraço,
